Primeiramente, gostaria de informar que o texto abaixo não é uma resenha ou resumo, é apenas um relato, ainda que singelo, da minha experiência de leitura com Abril Despedaçado.
Desenvolvi um relacionamento de amor e ódio com Abril Despedaçado, de Ismail Kadaré. Lembro que peguei o livro na biblioteca da faculdade em meados de agosto e acabei devolvendo por não conseguir tempo para lê-lo. Cerca de um mês depois, loquei-o novamente e comecei a leitura, que demorou a engrenar devido à minha falta de tempo. Quando finalmente terminei de ler, senti que um pedaço de mim tinha ficado preso em meio às páginas do livro e decidi lê-lo novamente.
A releitura de Abril Despedaçado foi árdua, a obra em si tem poucas páginas, mas o clima de tensão permeia por toda a narrativa. Em vários momentos abandonei a releitura e até cheguei a devolver o livro na biblioteca, o problema é que não conseguia me afastar, o texto me seduzia e loquei-o novamente várias vezes, para em seguida abandoná-lo e ter o prazer te tê-lo comigo novamente.
Essa relação me lembrou muito o conto Felicidade Clandestina, da Clarice Lispector, no qual a protagonista se deslumbra com o livro Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato e passa a viver com o mesmo uma relação afetuosa.
Ismail Kadaré é um escritor albanês, cujas obras são publicadas no Brasil pela Cia das Letras. Atualmente, são poucos os livros que realmente me tocam, que deixam minhas emoções à flor da pele e que ficam na minha mente por dias a fio. Abril Despedaçado, com sua linguagem simples e poucas páginas, possui uma prosa arrebatadora que conseguiu me fisgar sem o menor esforço tornando-se um dos melhores livros que li na vida.
A narrativa se passa no Norte da Albânia, na região do Rrafsh, onde Gjorg, um jovem montanhês precisa pagar uma dívida de sangue para limpar o nome de seu falecido irmão, e honrar o Kanun - um conjunto de leis não escritas que rege a vida dos montanheses, fazendo com que estes passem gerações em intermináveis rituais de vingança, pagando dívidas de sangue, matando uns aos outros.
Paralelamente, Kadaré conta a história de Bessian e Diana, um casal que vai até o Rrafsh passar a Lua de Mel e que assim como Gjorg, têm suas vidas devastadas pelo Kanun e seu mar de sangue.
Não vou me estender tanto nos detalhes, afinal, é um livro escrito para ser degustado, e espero ter despertado em vocês a ânsia de devorá-lo.
E no final de tudo, como no conto de Clarisse, eu já não era uma menina com um livro, era uma mulher com seu amante.
Links interessantes sobre a obra:
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Site oficial do filme Abril Despedaçado, produção nacional inspirada na obra de Kadaré.
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Sinopse oficial no site da Cia das Letras, editora que publica Kadaré no Brasil.
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A realidade sangrenta do Kanun.
2 comentários:
Carambolas atômicas, texto muito mais precioso que resenha crítica, amo sentir, omo foi o percurso das leituras alheias. Esse livro ai entrar na minha wishlist com certeza. Sinta-se culpada ;)
estrelinhas coloridas...
Também prefiro ler como foi o processo da leitura do que ler uma simples resenha. É bom demais ver as emoções que uma leitura desperta.
Abril Despedaçado foi um livro que realmente mexeu comigo, a cada página, eu refletia sobre a vida, sobre a morte, sobre valores...A narrativa em si é simples e delicada, recheada de passagens que colocam caraminholas na cabeça!
Obrigada pela visita Mi! Não vai se arrepender de lê-lo.
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