E enquanto fiquei parado ali, observando o céu ir mudando de cor, primeiro cada vez mais vermelho e depois cada vez mais claro, experimentei uma coisa que jamais havia experimentado antes; um sentimento que desde então nunca mais me deixou: lá estava eu na frente da janela da cabine de um navio, eu, um ser enigmático, vivo, mas que apesar disso nada sabia de si. Experimentei a sensação de ser uma criatura viva num planeta vivo dentro de uma Via Láctea.
(O dia do Curinga, pág. 149)
O dia do Curinga (Companhia de Bolso, R$ 27,00) foi o livro vencedor do Prêmio FNLIJ, categoria Tradução/Jovem em 1996. De Jostein Gaarder, eu já tinha lido O mundo de Sofia, Através do Espelho e A Biblioteca Mágica de Bibbi Bokken, de maneira que posso afirmar que já conheço seu estilo narrativo e não tive aquela sensação de surpresa e arrebatamento que procuro despertar em meu interior sempre que abro um livro. Em palavras mais simples, o livro não me surpreendeu, mas me agradou em partes.
O livro conta a história de Hans-Thomas, uma garoto que sai da Noruega com o pai e viaja até a Grécia a fim de encontrar a mãe que os abandonou. No trajeto, Hans e o pai param num posto de gasolina e lá o menino é presenteado por um anão com um pedaço de vidro. O anão explica ao pai do menino o caminho que os levará até a cidade mais próxima. Chegando nessa cidade, Hans vai até uma padaria onde novamente, recebe um presente de um estranho: um pãozinho com um livrinho dentro.
Mais tarde, Hans descobre que o pedaço de vidro que ganhou do anão era na verdade uma lupa para ler o livro em miniatura. E assim que começa a ler, mergulha em uma aventura completamente diferente de tudo que já viveu e descobre que essa leitura está relacionada com sua própria vida.
Os capítulos do livro são divididos a partir do ponto em que Hans obtém o livro. Assim, a história de Hans é intercalada com a história do livrinho misterioso. Num capítulo temos a história contado por Hans, seus diálogos filosóficos com o pai e a descrição dos lugares em que passam e em outro a narrativa que o livrinho esconde.
Como mencionei anteriormente, a leitura me agradou e acredito que isso só aconteceu porque gostei das questões filosóficas que o livro aborda, como esse trecho em especial:
- Talvez exista um Deus que nos entenda. - disse eu.
Meu pai ficou surpreso com o que eu disse. Acho que o fato de eu ter feito um comentário tão inteligente o deixou muito impressionado.
- Sim, é possível - concordou. - Mas nesse caso ele seria tão terrivelmente complexo que seria difícil que conseguisse entender a si mesmo.
( O dia do Curinga, pág. 155)
Tirando esses trechos que abordam a filosofia típica de Gaarder, não posso dizer que tive um aproveitamento completo da leitura. Achei a história previsível demais e penso que isso acontece comigo pelo fato de eu já ter lido muitas coisas, assim encontro cada vez menos narrativas que me surpreendem, é tudo mais do mesmo.
Deixando a crítica de lado, continuo gostando de Gaarder e acho que seus livros podem ser mais proveitosos para um adolescente ou uma criança que está começando a se aventurar pela literatura. Já disse aqui no blog que literatura não tem idade, mas acredito que certos livros trazem consigo a magia de determinada faixa etária.
Eu, por exemplo, sou fã da série Harry Potter e já li todos os livros diversas vezes, mas confesso que estou com receio de ler a série novamente e me decepcionar. Quando li HP pela primeira vez, descobri um mundo mágico, mais hoje sou uma leitora muita mais crítica e posso ler com toda essa criticidade, de modo que prefiro guardar a lembrança daquele mundo maravilhoso de J. K. Rowling do que ler de novo e descobrir que não era bem o que eu imaginava.
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