quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Cinzas do Norte, Milton Hatoum

Cinzas do Norte recebeu vários prêmios e é considerado um dos melhores livros de Milton Hatoum ao lado de Dois Irmãos. É um livro através do qual Milton demonstra extremo domínio sobre a linguagem, a criação de uma narrativa complexa (através do jogo de flash backs misturando passado e presente) e a contar uma magnífica e bela história com uma grata surpresa no final.

A relação de Jano com a família é complicada, principalmente com seu filho, pois Mundo descobre um talento para a arte e Jano acha que isso é uma besteira, deixando cada vez mais de “amar” seu filho (“Se eu tivesse filhos! Por isso invejo a sorte de alguns proprietários da região, homens e mulheres que criaram homens e têm herdeiros. Enquanto eu vou morrer sem herdeiro, Deus não me deu um”) e, além disso, acha que a tentativa de Mundo de se tornar um artista é um equívoco.

O Colégio Militar na época da ditadura tratava os alunos como animais e exigia esforço sobre-humano nos treinamentos de campo e ainda não permitia que os alunos tivessem suas próprias ideias (se fossem contra o governo vigente), tratando-os como máquinas que deveriam simplesmente amar o país (na verdade a ditadura), ser excelentes soldado a qualquer preço e alienados sem influência das artes.

O Colégio Brasileiro representa a maior parte dos colégios públicos brasileiros que passam o aluno de ano sem ele ter se esforçado, pois Mundo foi para lá para “desenhar a vontade, acordar tarde, entrar na aula no meio da manhã e cabular sem ser caceteado" demonstrando uma carga social na obra de Hatoum.

Os conflitos familiares ficam extremamente evidentes, pois na família de Lavo, Ranulfo não trabalha e a única pessoa que trabalha (até Lavo se formar advogado) é Ramira, que não se dá muito bem com o irmão.

Na família de Mundo o pai, Jano, não se dá bem com o filho Raimundo, pois o filho quer ser artista e o pai acha que isso é besteira e as relações entre pai, filho e esposa ficam estremecidas.

Quem aparece na vida de Mundo e o inspira em sua arte é Arana, um artista considerado impostor por Ranulfo, Jano e Lavo e que aceita qualquer preço por suas obras, divergindo de Mundo nesse ponto, já que para ele a arte é um produto para venda e Mundo a vê como algo que carrega questões sociais e políticas além da beleza estética.

Mundo, com sua arte, tenta mostrar indignação com a situação dos moradores do Novo Eldorado e, com ajuda de Ranulfo, faz um campo de cruzes nas ruas sem calçadas do bairro, mas o que consegue é ser caçado pela polícia e a ira do pai.

Além disso, há o relacionamento secreto entre Alícia e Ranulfo, que é mantido desde antes do casamento de Alícia com Jano e o triângulo amoroso entre Ranulfo, Alícia e Jano vai se desenrolando ao longo da trama e a cada capítulo, através das cartas de Ranulfo a Mundo, os segredos vêm à tona. No final há uma surpeendente revelação em relação a Mundo e a identidade de seu verdadeiro pai, que é uma bela cereja nesse delcioso romance de Milton Hatoum, o garnde nome da Litearatura Brasileira atual.

Principais personagens:

Alícia: Mãe de Mundo

Arana: Tutor de Mundo

Fogo: Cachorro de Jano

Jano: Marido de Alícia e pai de Mundo

Olavo (Lavo): Amigo de Mundo (protagonista e personagem/narrador)

Raimundo (Mundo): Filho de Alícia e Jano (protagonista)

Ranulfo: Tio de Lavo

Ramira: Tia de Lavo e irmã de Ranulfo
O escritor Milton Hatoum

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