Cinzas do Norte recebeu vários prêmios e é considerado um
dos melhores livros de Milton Hatoum ao lado de Dois Irmãos. É um livro através
do qual Milton demonstra extremo domínio sobre a linguagem, a criação de uma
narrativa complexa (através do jogo de flash backs misturando passado e
presente) e a contar uma magnífica e bela história com uma grata surpresa no
final.
A relação de Jano com a família é complicada, principalmente com seu filho, pois Mundo
descobre um talento para a arte e Jano acha que isso é uma besteira, deixando
cada vez mais de “amar” seu filho (“Se eu tivesse filhos! Por isso invejo a
sorte de alguns proprietários da região, homens e mulheres que criaram homens e
têm herdeiros. Enquanto eu vou morrer sem herdeiro, Deus não me deu um”) e,
além disso, acha que a tentativa de Mundo de se tornar um artista é um
equívoco.
O Colégio Militar na época da ditadura tratava os alunos
como animais e exigia esforço sobre-humano nos treinamentos de campo e ainda
não permitia que os alunos tivessem suas próprias ideias (se fossem contra o
governo vigente), tratando-os como máquinas que deveriam simplesmente amar o
país (na verdade a ditadura), ser excelentes soldado a qualquer preço e
alienados sem influência das artes.
O Colégio Brasileiro representa a maior parte dos
colégios públicos brasileiros que passam o aluno de ano sem ele ter se
esforçado, pois Mundo foi para lá para “desenhar a vontade, acordar tarde,
entrar na aula no meio da manhã e cabular sem ser caceteado" demonstrando uma carga social na obra de Hatoum.
Os conflitos familiares ficam extremamente evidentes, pois
na família de Lavo, Ranulfo não trabalha e a única pessoa que trabalha (até
Lavo se formar advogado) é Ramira, que não se dá muito bem com o irmão.
Na família de Mundo o pai, Jano, não se dá bem com o filho
Raimundo, pois o filho quer ser artista e o pai acha que isso é besteira e as
relações entre pai, filho e esposa ficam estremecidas.
Quem aparece na vida de Mundo e o inspira em sua arte é Arana, um artista considerado impostor por Ranulfo, Jano e Lavo e que aceita qualquer preço por suas obras, divergindo de Mundo nesse ponto, já que para ele a arte é um produto para venda e Mundo a vê como algo que carrega questões sociais e políticas além da beleza estética.
Mundo, com sua arte, tenta mostrar indignação com a
situação dos moradores do Novo Eldorado e, com ajuda de Ranulfo, faz um campo
de cruzes nas ruas sem calçadas do bairro, mas o que consegue é ser caçado pela
polícia e a ira do pai.
Além disso, há o relacionamento secreto entre Alícia e Ranulfo, que é mantido desde antes do casamento de Alícia com Jano e o triângulo amoroso entre Ranulfo, Alícia e Jano vai se desenrolando ao longo da trama e a cada capítulo, através das cartas de Ranulfo a Mundo, os segredos vêm à tona. No final há uma surpeendente revelação em relação a Mundo e a identidade de seu verdadeiro pai, que é uma bela cereja nesse delcioso romance de Milton Hatoum, o garnde nome da Litearatura Brasileira atual.
Principais personagens:
Alícia: Mãe de Mundo
Arana: Tutor de Mundo
Fogo: Cachorro de Jano
Jano: Marido de Alícia e pai de Mundo
Olavo (Lavo): Amigo de Mundo (protagonista e personagem/narrador)
Raimundo (Mundo): Filho de Alícia e Jano (protagonista)
Ranulfo: Tio de Lavo
Ramira: Tia de Lavo e irmã de Ranulfo
O escritor Milton Hatoum |
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